Falar de oração a um jovem nunca é fácil. A reação, quase sempre, é instintiva: um misto de reserva, dúvida, incômodo. Muitos preconceitos — e fatos concretos — se acumulam, desde o primeiro instante, como obstáculos à compreensão de seu verdadeiro sentido e à aceitação do seu valor. Não faltam companheiros e amigos que já não rezam e zombam dos que rezam; ou aqueles cuja maneira antipática ou afetada de rezar desanima quem tem sensibilidade e senso de autenticidade. Há ainda quem ostente práticas devocionais populares de modo caricatural e grosseiro, afastando mais do que atraindo. Pior do que isso: há os que frequentam a igreja, rezam, e revelam-se — na vida real — piores que os outros.
Não se trata de uma realidade que se possa dissolver com um simples encolher de ombros. Nós mesmos a reconhecemos e estigmatizamos. No entanto, sua existência se deve, em grande parte, à incompreensão do que seja, de fato, a oração. E tu, que talvez já não rezas, sabes realmente o que ela é?
A oração te enobrece
És jovem — e, espero, também um pouco filósofo. Ora, não te alegras quando tens a oportunidade de falar com uma pessoa ilustre, de ser honrado pela amizade de alguém superior em importância, inteligência ou virtude? E não permaneces indiferente diante do contato com pessoas comuns, ou mesmo evitas aqueles cuja função social te parece modesta?
Pois vê: tratar com os grandes enobrece. E Deus é infinitamente grande. A oração é conversar com Ele.
Cabe-te, então, escolher: respirar o infinito com as almas elevadas ou misturar-te à multidão nos caminhos lamacentos dos homens; voar como águia nos céus ou esgaravatar como aves do poleiro. Pela oração, tornas-te colaborador de Deus. Ele mesmo a quis no seu plano providencial como causa próxima de certos acontecimentos. Assim, és chamado a ser artífice da tua própria sorte — e da do mundo — ou apenas vítima dos acontecimentos.
Talvez digas: “Mas não sei rezar!” E, contudo, um dia rezavas… lembravas as orações simples ensinadas por tua mãe. Depois as esqueceste. Mal feito! Mas não te desesperes. Começa de novo. Dirige a Deus pequenas invocações, curtos atos de amor, uma jaculatória singela. Dá espaço a Deus no teu coração; pouco a pouco, aprenderás a falar-Lhe com maior intimidade e confiança — talvez até com a ternura das preces da infância. Repete, com humildade, a súplica dos Apóstolos: “Senhor, ensinai-nos a rezar!”
Mas de que falar com Ele? — pergunta um jovem. A resposta está em ti mesmo. Fala-Lhe d’Ele: adora-O, ama-O, agradece-Lhe tudo o que tens, tudo o que és.
Fala-Lhe de ti: não cessou de te dar graças e dons; pede-Lhe! Quantas coisas trazes no coração — alegrias e tristezas, planos e dúvidas, vitórias e quedas, generosidades e covardias. Suplica por luz, força, firmeza.
Lembra-Lhe os outros: o mundo inteiro te cerca. Tens família — pai, mãe, irmãos — que também necessitam de luz, socorro, auxílio divino para a vida do corpo e da alma. Tens uma pátria: não basta votar, cumprir as leis ou criticar o governo. É preciso penetrar a vida nacional com a vida de Deus: “Nisi Dominus aedificaverit…”
Pensa ainda na humanidade inteira: só o Amor infinito pode dissipar o ódio e a desconfiança entre os povos. E a Igreja, de que és parte, feita de homens — leigos, sacerdotes, bispos — chamados como tu a administrar e viver as coisas divinas. Por que não sustentá-los com tua oração, como Moisés que mantinha erguidos os braços ao céu?
Com tudo isso, não deveria ser difícil converter-te à oração: conhecê-Lo e conhecer-te, amá-Lo e invocá-Lo por ti e pelos outros. A oração é, assim, o respiro da alma: eleva-te, fortalece-te, embriaga-te de vida e de infinito.
A necessidade da oração: santificar e salvar
A santidade é o esplendor da vida divina em nós. Todos somos chamados a ela. É uma tarefa sublime, mas exigente.
Precisas de luz. Na tua idade, é fácil deixar-se guiar pelos impulsos do coração e dos sentidos. Mas o coração é cego; precisa ser iluminado e conduzido. Os sentidos, por si, arrastam para baixo; devem ser elevados, orientados ao alto. Sem a luz de Deus, o coração jamais verá os ideais superiores; ficará prisioneiro dos instintos e paixões. Reza, pois, para que teus horizontes se alarguem e para que vejas as realidades mais altas e sublimes.
O caminho da vida está cheio de perigos e armadilhas. Necessário é, portanto, caminhar com Aquele que disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade…” Com Ele não te perderás. E se te desvias, Ele te reconduzirá.
Precisas de força. Fora de ti, quanta ocasião de queda! Para resistir, precisas de energia, virilidade, coragem. De onde virá esta força? O fascínio misterioso do mal derrubou homens mais fortes que tu. Só a oração pode resguardar-te: “orate, ut non intretis in tentationem” — “orai, para não cairdes em tentação”.
Dentro de ti agitamse mil paixões. Quem as dominará? Somente Deus. Somente Ele acalma tempestades. É preciso saber clamar no momento justo: “Domine, salva nos, perimus!” — “Senhor, salva-nos, perecemos!” Falta-te a força sobrenatural? Deus está pronto a concedê-la. Suplica.
Caíste? Ainda mais deves buscar n’Ele nova força. A oração não enfraquece tuas energias; ao contrário: reúne-as, purifica-as, potencializa-as. Tens necessidade de amizade verdadeira. Os amigos da terra podem trair-te ou abandonar-te — também os poetas pagãos o sabiam. Só o Amigo Divino jamais trai. Por que renunciar a tão bela amizade?
E mesmo os melhores amigos humanos só te ajudam segundo suas limitações. Deus é infinito e coloca à tua disposição a Sua onipotência. Toda amizade verdadeira só o é se te leva à amizade d’Ele.
Método e qualidade da oração
A verdadeira oração é uma elevação consciente da alma a Deus. Mesmo a oração vocal deve ser assim: um diálogo real com o Altíssimo.
Rezar não é recitar mecanicamente fórmulas vazias — serias como um aparelho repetidor. Nem deve ser apressada e superficial — como vidro que ressoa e logo se quebra.
A oração deve ser católica, universal, cheia do respiro da Igreja. Ótimo seria acostumar-te à voz solene da liturgia! Não é difícil: existem livros e guias para te ajudar; e tua Missa dominical se tornaria muito mais viva, compreendida e amada.
A oração mental, apesar do nome, não é só raciocínio. Deve envolver o homem inteiro: corpo, alma, inteligência, coração. É abandono filial em Deus, entrega confiante, exercício de amor profundo. Maria, aos pés do Senhor, rezava e amava, amava e rezava. Eis o modelo.
Mas essa oração exige aplicação e constância. Encontra um tempo diário para ela. Um bom livro pode ajudar-te. E se a distração vier, permanece em silêncio na presença de Deus. O silêncio é a voz do amor em espera. Olha para Deus — Ele te olha. Como o sol que fecunda a flor apenas pousando nela, assim Deus age na alma silenciosa.
Se a distração persistir, recorre à oração vocal — e sobretudo ao Rosário.
O Rosário é oração perfeita: envolve mente e coração, palavra e contemplação. Nele cantas e meditas; pronuncias as mais belas palavras e percorres os mais vastos mistérios da fé. Oração querida de Maria, recomendada pelos Santos e pelos Papas. Ama também tu o Rosário. Nunca o amarás de verdade se o julgares um simples murmúrio mecânico de velhas beatas, em vez de um profundo contato com os mistérios divinos.
A oração é como a chama: ilumina, aquece e se multiplica, propagando luz e calor por toda parte.