Aquilo que é mais agradável de se perceber, em um homem, não é a beleza ou os músculos, mas sim uma personalidade bem desenvolvida. Existem exemplos de grandes homens ao nosso redor e na História: cientistas brilhantes, pintores, um hábil diplomata; todos eles parecem distantes da nossa realidade bagunçada, causando admiração ou inveja aos companheiros, porém todos eles são homens como todos os outros. Para imitá-los, é necessário primeiro ser homens de caráter e desenvolver a personalidade.
Afinal, o que é caráter?
Todos recebemos da natureza um conjuntos de faculdades, capacidades, tendências boas ou más, que constituem o fundo da nossa índole. É o material bruto que precisa ser lapidado para formar nossa fisionomia moral: o caráter. Ou seja:
- Confere-nos um perfil típico, que nos distingue uns dos outros
- Alicerceia a nossas capacidades, multiplicando o nosso espírito de iniciativa e conquista, a decisão de escolha, e firmeza na execução.
- É o triunfo da vontade sobre a indolência e as más tendências que nos permite progredir rapidamente nos caminhos da perfeição, deixa uma marca inconfundível nas nossas obras e domina aqueles com as quais tivemos relações pela nossa atividade e as contingências da vida
Seres sem fisionomia
Geralmente, quando uma pessoa não desenvolve o seu caráter, ele terá alguns destes problemas:
- Temperamentos duros, intransigentes, soberbos: São um tormento para todos e não contribuem à felicidade de ninguém. São tolerados hoje, na família pelos pais, irmãos e até amigos, e tiranizarão amanhã a família em que viverem, detestados pela esposa e pelos filhos, destruindo a felicidade do lar. Virão a se encontrar completamente isolados no trabalho e na vida, todos se afastarão deles e terão que se roer pela raiva, vítima das paixões, que não souberam dominar: queriam ser tiranos e se reduziram à condição de escravos.
- Temperamentos tímidos, susceptíveis, melindrosos: Serão vítimas fáceis na vida dos prepotentes e nunca saberão enfrentar situações de capital importância; almas rebocadas pelas circunstâncias e pelos eventos da vida. Atormentar-se-ão, guardando inúteis ressentimentos contra tudo e contra todos, ao passo que deveriam culpar exclusivamente a si mesmos.
- Temperamentos preguiçosos e indolentes: Sem iniciativa pessoal, jamais desfrutarão a confiança dos outros, que nunca lhes confiarão um empreendimento sequer; começarão muitas coisas para nunca levar alguma ao fim e dirão sempre ter feito o que queriam mas, na verdade, nunca quiseram nada.
- Temperamentos pessimistas: Estragarão inconscientemente ideais e fatos, de onde podem tirar bons frutos, serenidade e alegria. Além disso, amargurarão a vida dos outros. A vida será para eles um tormento, que os levará à beira do desespero
Precisamos lembrar que em todos esses pontos a causa do fracasso está em nós. Em contrapartida, o homem que venceu a si mesmo é o homem de caráter. É uma pessoa equilibrada em que tudo se desenrola sob o sinal duma lei de beleza e de equilíbrio e está sempre com a consciência em paz, porque dominam os seus instintos e aproveitam a paz na vida, porque os acontecimentos não o conturbam, pois sabe enfrentá-los e dominá-los. Na sua casa há paz: vive sereno as suas horas de alegria, e enfrenta corajosamente as provas. Nas relações com os outros:
- Goza a estima de todos, pela seriedade e proibidade da vida; a simpatia pelo equilíbrio, afabilidade e bom humor.
- Conquista e arrasta após si muitas vontades irresolutas, que necessitam de guia e direção: no pouco ou no muito é um vitorioso.
- É um homem que fêz frutificar os talentos recebidos de Deus (Mt 25,15-25)
E como se tornar um homem de caráter?
Podemos simplificar o condicionamento do caráter em três pontos:
- Temperamento natural: nervoso, apático, sanguíneo, qualidades boas ou ruins.
- O ambiente ao nosso redor: casa, família, amigos, professores etc.
- A Vontade, como fator que pode fazer triunfar em nós determinadas tendências e sentimentos. Da sua eficácia depende quase tudo.
E existem ideais que devemos mirar com firme resolução, como um coração nobre e cristão, uma consciência reta e um comportamento social impecável e, sobretudo, uma vontade inflexível, dona das nossas paixões internas e do mundo que nos rodeia (sendo decidida, energética e perseverante).
Quais os meios, você pergunta? “Vigilância, habilidade, ajuda de Deus” (S. Francisco de Sales):
- Vigilância:
- Se conheça. Perscruta até no fundo do seu ser para esquadrinhar o teu mistério e saber quais são as tuas possibilidades, as tuas qualidades e defeitos.
- Faça um exame de consciência e controle a tua atividade de cada dia.
- Escuta quem te conhece e te ama. É um meio eficaz para aprofundar o teu conhecimento e controlar a tua atividade diária.
- Habilidade: fundados sobre o conhecimento de nós mesmos, devemos agir:
- Preparando um plano adequado à tua maneira de ser.
- Lutando intensamente contra os defeitos predominantes.
- Esforçando-te para atuar um programa preciso de aperfeiçoamento moral (sem escrúpulo), renovando a cada dia os generosos propósitos e repetindo a ti mesmo: “Quero, sim, quero” (Ollé-Laprune). Evita qualquer forma de desânimo.
- Ajuda de Deus, conseguida por meio da oração e dos sacramentos:
- Somos homens. Dependemos, no ser e no agir, de Deus, criador, nosso fim e Senhor providente; à Ele devemos recorrer para realizar a Sua Vontade.
- Somos filhos de Deus por Graça. A perfeição do nosso caráter na ordem à salvação é tarefa sobrenatural, impossível sem a Graça. Como filhos de Deus e membros da Igreja, precisamos realizar um trabalho de aperfeiçoamento sobrenatural e pessoal e um trabalho apostólico, sinal, fruto e necessidade da santificação pessoal.
A Graça de Deus não deve ser desperdiçada. É necessário recuperar os anos perdidos, talvez perdidos na infância e na adolescência. Nas suas mãos, com as qualidades que Deus deu a cada um de nós, está um nobre futuro. Avante! precisamos ser cristãos santos!