Até agora o nosso interesse dirigiu-se aos valores humanos que deves ter em consideração para embelezar a tua juventude e encaminhá-la rumo a um futuro feliz. Recursos esplêndidos que deves descobrir e valorizar; mas a tua tarefa não termina aqui. Somos chamados para realizar uma grandeza de ordem divina. Agora Jesus te diz: “Ascende superius!“
O valor da graça
É São Tomás que nos lembra : “Bonum gratiae unius, maius est quam bobun batyrae totius univeri”. Possuís, portanto, em ti um tesouro que vale infinitamente mais do que o universo inteiro. Eis as razões: é uma realidade divina, que nos torna filhos de Deus e herdeiros da sua glória. Não temos termos humanos para exprimir adequadamente, ou mesmo só para comparar de maneira explicativa, essa realidade que não nos torna filhos de Deus por natureza – somente o Verbo Divino o é – mas nem filhos de Deus adotivos à maneira humana, – a adoção humana é coisa externa, legal, que confere direitos, mas não confere nada no adotado, – ao passo que aqui a adoção opera de dentro, inserindo em nós um jorro de vida divina “ut filii Dei nominemur et simus” (São João). É, portanto, uma renovação intrínseca, que nos torna herdeiros daquele infinito tesouro que é Deus mesmo
Estávamos mortos pelo pecado; voltamos a viver em virtude da graça. Éramos incapazes de merecer algo que fosse; todas as nossas obras boas se tornam meritórias e fundamentam o nosso direito à glória, temos o germe da bem-aventurança tornando-nos morada da divindade.
Se temos em grande consideração as coisas que custaram um “esforço humano” para chegar a nós, em que valor teremos a graça que custou a humilhação de Deus em condições de homem, a sua aceitação dos sofrimentos humanos até à morte de cruz?
A necessidade do estado de graça
Nesta vida e na vida eterna:
- Para enfrentá-la seriamente: nada pode conturbar o homem que tem a Deus: “Si Deus nobiscum, quis contra nos?“
- Para experimentar a verdadeira alegria: as coisas podem, quando muito, dar-nos calafrios de felicidade; passam e deixam a sensação do vazio. Se Deus está no fundo do coração, tudo ampara. Qualquer coisa nos pode dar alegria. O pecador vive em superfície: no fundo está morto. Vê a vida como espetáculo, não como realidade profunda.
- Para nos irmanar com todos. Unicamente a graça nos ajuda eficazmente a vencer as antipatias naturais, a superar as diferenças de classes, de educação, perdoar as ofensas e amar a todos: dentro e fora de casa.
- Para fundar uma família feliz. Será o amor e não a paixão a te impelir para o outro sexo. Na mulher verás uma criatura de Deus, e não um instrumentos de prazer; uma esposa e não uma “escrava”. Receberás um sacramento, não uma permissão para caprichos passionais.
- Sobretudo é necessário viver em graça, porque ela é a veste nupcial que nos dá direito de participar ao banquete da glória. O momento da morte é incerto: Jesus disse: “Virá como um ladrão”: estás preparado para morrer neste momento? Não há meio termo: ou inferno ou paraíso. Para toda a eternidade! Vive então em graça, se não quiseres ser infeliz para sempre.
As dificuldades a serem superadas
A nossa natureza: não podemos largá-la.
- O pecado original a devastou: destruiu a harmonia interior, desencadeou as paixões.
- Os problemas hereditários. A vida dos nossos antepassados pesa sobre a nossa. Suas desordens morais ampliaram as devastações. Não acrescenteis os teus defeitos: a próxima geração herdará também os nossos. Antes, melhorai-vos.
- O temperamento: cada um tem o próprio, desde o melancólico ao sanguíneo, ardente ou frio, que nem sempre está em sintonia com o querer divino.
- A saúde: muitas vezes uma enfermidade impede ou nos torna difícil a vitalidade espiritual.
- A idade: a juventude, além de sujeita aos perigos comuns a todas as idades da vida, está sujeita a particulares perigos: inexperiência, falta de reflexão, excesso de fantasia, cobiça de viver, inconstância, temperamento passional etc.
A nossa vida social: não podemos evitá-la, porque somos criaturas destinadas por Deus a viver em sociedade, mas pode constituir para nós um obstáculo para viver em graça, pelos perigos que apresenta.
- Lugares que frequentamos:
- Por necessidade: a rua – grande cenário público da vida – com seus encontros, seus cartazes publicitários, o trabalho, a escola…
- Por divertimento: cafés, cinema, teatro, piscinas, praias etc.
- As companhias: rapazes corruptos, peraltas, vadios; moças levianas, provocantes, imodestas
- As leituras: circula pela sociedade uma enxurrada de livros e revistas obscenas: lá estão descaradamente expostas nas vitrines dos livreiros e nas bancas dos jornais.
- Os maus exemplos: o mal não fica mais escondido; não existe mais senso de pudor, tudo é compadecido, tolerado, admitido. Dá vontade de dizer: “Faço como os outros”. Não vá nessa corrente; reage, impele para o bem o mundo que te contorna. Aos maus exemplos deves contrapor os bons.
Meios para viver em graça
Para consegui-la:
- A oração: a graça é dom de Deus. Não podemos merecê-la: devemos pedi-la.
- A confissão: é o meio que nos permite readquiri-la quando a temos perdido.
Para conservá-la:
- Fidelidade a Deus atendendo a seus chamados, pondo em prática – custe o que custar – as suas inspirações.
- Constância e perseverança: talvez nunca nos serão exigidos atos heroicos; mas há um compromisso cotidiano que nunca cessa: manter-se fiel a Ele é heroísmo continuado.
- Fuga das ocasiões: a nossa fraqueza é grande… seria loucura aumentá-la, metendo-nos à mercê de perigos. A derrota seria certa, porque as nossas forças não bastam para superar as provas excepcionais, e Deus não tem nenhuma obrigação de nos ajudar numa circunstância por nós procurada. Cuidado com cinemas, bailes, leituras e amizades.
- Delicadeza de consciência. Antes de mais nada é necessário formar-nos uma consciência reta, livre de sofismas e compromissos. (“Os outros fazem assim…”; “que mal há nisso?”; “precisamos nos divertir!”). É necessário levar a sua educação até torná-la sensível aos matizes mais delicados. Um amor pequeno só cuida das coisas mais importantes: um grande amor chega até aos mínimos pormenores
Para aumentá-la:
- Frequência aos Sacramentos: são as fontes maravilhosas da graça. Tudo santificam. São regatos misteriosos que acompanham a nossa caminhada no tempo, contanto que em toda a circunstância saibamos haurir a água revigoradora.
- Prática das virtudes cristãs: São o ideal moral que temos que realizar em nós, o tom que deverá assinalar todas as nossas ações.
Conheçamos o fim para o qual Deus nos chama; dom maravilhoso que para alcançá-lo Deus nos fornece os obstáculos e os meios para superá-los. Seria absurdo que, tendo comida, morrêssemos de fome; mais absurdo ainda, que, podendo conseguir uma grandeza divina e uma felicidade eterna, renunciássemos a tudo para cair num tormento eterno. Viver em graça não quer dizer renunciar à alegria e à vida, mas exaltá-las, torná-las eternamente presentes.