Você precisa de bons amigos

Na Esparta antiga uma lei mandava que cada guerreiro escolhesse um amigo entre os companheiros soldados. No campo deviam lutar lado a lado, animando-se reciprocamente e, se um caía, o outro devia proteger o cadáver até devolvê-lo, junto com o escudo, à pátria dos seus antepassados. Meu caro leitor, você também está empenhando uma dura luta: a da vida. Diversos perigos te rodeiam; o combate é duro. Não pode ficar sozinho: teu coração precisa de apoio, tua alma de guia e conselho, tua vontade de estímulo. A História, porém, desde os tempos remotos fala de más amizades. É necessário se orientar. Descubra primeiro o que é a verdadeira amizade

A Amizade é um afeto do coração

Você tem um coração que por lei natural foi feito para amar.

  1. Você precisa comunicar-se com os outros
    • O homem, por sua natureza, quer viver em sociedade. Sente falta dos outros.
    • Os primeiros encontros te ocorrerão na escola ou no lugar do trabalho… Ocupações comuns que irmanam.
    • Outros encontros se dão nas diversões. A mesma alegria será patrimônio de todos.
  2. Quando menos perceberes, teu coração se abrirá para à predileção.
    • Descobrirás num outro indivíduo inclinações semelhantes às tuas ou qualidades complementares da tua personalidade, algo que falta em ti.
    • Um misterioso atrativo te levará a preferir a companhia de alguém à de todos os outros: terás gosto em falar com ele, divertir-te com ele e trabalhar ao seu lado. É a simpatia que entrou em ação.
  3. Não apagues os teus sentimentos.
    • Deus é o criador da amizade e Jesus também teve as suas predileções: São João, Lázaro, etc.
    • Também não procure substituí-los, Nem com afeições naturais (estudos, distrações artísticas), isso te faria um misantropo. E nem se escondendo, apenas buscando o sobrenatural; porque a graça aperfeiçoa a natureza, não a destrói.

Educa, porém, os sentimentos do coração.

  1. Do teu amor ninguém deve ser excluído: são todos filhos de Deus.
    • Nunca vejas nos outros homens ou inimigos, ou seres desprezíveis: Deus deu-os como teus irmãos.
    • E nem consideres apenas como fonte de utilidade ou de conveniência. Seria muito mesquinho e um triunfo do teu egoísmo.
    • Ama-os a todos com amor puro, desinteressado, sobrenatural. Como Deus amou a ti.
  2. Ama com amor mais intenso os de tua predileção.
    • Teu amor baseie-se, porém, não tanto sobre as qualidades externas quanto sobre as perfeições morais. Seja amor verdadeiramente cristão: caridade, uma emanação do amor de Deus.
    • Seja expresso nos termos de verdadeira amizade: compreensão, conforto, ajuda recíproca, confidência, confiança.

Uma amizade má pode ser a tua ruína. Uma amizade boa pode ser decisiva para a tua alma.

As falsas amizades

Nas falsas amizades domina somente o espírito utilitário. São falsas amizades que se fundam:

  • Sobre o interesse material: não podes considerar amigo um rapaz unicamente porque te ajuda a fazer algumas tarefas do dia a dia ou do trabalho; nem aquele que te ajuda a encobrir ou organizar as tuas maldades; nem aquele que te substitui em teus compromissos importantes.
  • Sobre uma atividade pecaminosa: aquele que te ensina a fazer o mal, que destrói a tua fé em Deus, que com conversas te afasta da prática religiosa.
  • Sobre o esnobismo, a frivolidade, a leviandade: aquele que manifesta poses, que tem gestos extravagantes, ostenta espiritualidade, aquele que pavoneia-se e se faz de brutamonte, o filhinho de papai, estes não servem como amigos

É uma traição da amizade, que consiste em querer o que é bom para os nossos amigos. Nada ofereces ao teu amigo, não enriqueces a sua alma, aliás a empobreces e a exploras. Fazes dele um ignóbil instrumento dos teus divertimentos.

Este é o triunfo do egoísmo e é vergonhoso para ti, porque teu afeto é semelhante ao interesse dos animais, às vezes até inferior, porque eles, pelo menos, sabem ser agradecidos e é vergonhoso para o teu amigo passar por essa situação e ser chamado por ti como amigo.

Os perigos das falsas amizades são evidentes:

  • Na ordem natural:
    • Subversão de todos os valores. Às nobres qualidades da alma, às afirmações mais altas das capacidades humanas, se preferem atrativos vulgares e manifestações desprovidas de qualquer valor e até pecaminosas.
    • Ruina do coração, que joga o seu amor para coisas indignas
  • Na ordem sobrenatural:
    • Afasta-nos de Deus, que é amor puro.
    • Acorrenta-nos à terra, sem mais nos deixar ver o céu, que estava preparado para nós.
    • Cortam as asas, impossibilitando-nos a consecução de qualquer ideal nobre e sobretudo a glória eterna, que é o ponto mais alto do Amor.

A verdadeira amizade

Um amigo fiel, na luta desta vida, é um grande tesouro. E assim como os tesouros, são raras. Antes de outorgar o título de amigo a uma pessoa, pense bem. São precisos anos para conhecer uma pessoa: deixa-te guiar por um são juízo, perscruta cuidadosamente o fundo da alma, não te ofusque a vista o comportamento exterior: beleza do rosto, elegância das maneiras podem esconder um coração malvado.

Feita a escolha trata-o como verdadeiro amigo. A tua confidência seja plena, mas nunca separada da prudência cristã; a sinceridade dever ser a tua guia. E fique ao lado do teu amigo nos momentos de dor e de desgraça. As adversidades são as provas da verdadeira amizade.

Como é uma verdadeira amizade:

  • Ajudar-se com todas as forças para a realização de nobres ideais: na profissão, na posição social; na formação de uma família…
  • Colaborar mutuamente no esforço de praticar integralmente as virtudes cristãs: reanimar-se nas dúvidas, ajudar-se nos momentos de fraqueza, corrigir-se nos desvios, erguer-se nas quedas

A amizade orientada em sentido cristão nunca terá fim. Neste mundo tudo acaba: talvez a morte não tarde a quebrar na Terra também a alegria de um vínculo santo. A separação, porém, é apenas temporária. Finda a sociedade do tempo, começa a da eternidade.

Há horas na vida em que, apesar de rodeados pelos homens, sentimo-nos tremendamente isolados. Que bom ter um coração onde efundir os segredos da nossa alma e um braço onde apoiar-nos em nossas incertezas. Mas a nossa amizade deve ser cristã, santa: vínculo desinteressado, leal, generoso de dois peregrinos que avançam, ajudando-se vigorosamente, para a eternidade.